quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

nigrinhagem

Cena 1



SIRLEIDE



FERNANDA


CRIANÇA


CÁSSIO




Música ambiente de loja. As duas vendedoras (Fernanda e Jô) já estão em cena. Fernanda atrás do balcão fazendo contas e Jô organizando algumas roupas na loja.



Fernanda – Nossa... Olha uma cliente vem chegando.



Jô – Minha vez. Vou lá.



Sirleide entra na loja. Tira os óculos do rosto e põe na cabeça. Cássio entra logo em seguida, ajeitando o terno e pegando o iPhone.



Jô – Tudo bem? Bem vinda a...



Sirleide – Tudo bem, minha flor?



Jô – Tudo em paz. Adorei o anel!



Sirleide – Fino, né? Esse daqui eu comprei na Estemi e esse daqui na Tifane.



Jô – São maravilhosos... Então, me chamo Joana. Conhece nossa loja?



Sirleide – Ah, sim! Nessa daqui eu nunca vim, mas minhas amigas já vieram várias vezes! Aqui é bem fino né? Bonita a cor da parede!



Jô – (Risos discretos) Obrigada. Pode ficar a vontade! Aceita um café, uma água...



Sirleide – Ah, uma água. Esse calor tá demais!



Jô – Temos prosseco também. Prefere?



Sirleide – Prosseco? Champagne? Né sidra não, né?! Que arraso! Eu quero um copo!



Jô – Nanda, pede a copeira uma taça de prosseco para a dona...



Sirleide – Sirleide!



Jô – Sirleide...



Fernanda – Pode deixar...



Sirleide – Sim minha flor, tô procurando um vestido desses bem elegantes, sabe. Bonitos, com babado, laços, lantejoulas...



Jô – Algum evento imporante?



Sirleide – É a formatura do meu afilhado! Tá terminando Educação Física, lá em Salvador. Vai tá o prefeito, o governador e toda a chiqueirada da Bahia.



Jô – Tem um que você vai adorar!



Sirleide – Cadê, deixa eu ver (pega o vestido da mão da vendedora)?



Jô – Esse daqui. Agora no verão está se usando bastante este tecido, que é meio metálico.



Sirleide – Oxe! Todo amassado assim? Tem ferro pra passar não?



Jô – É assim mesmo senhora. Com um salto scarpin preto ou prata fica show!



Sirleide – Minha sobrinha me deu um salto de acrílico que tá bem na moda. Fico quase um metro mais alta com ele. Tava pensando em usar!



Jô – Acrilico já foi, gata... Já é demodê. Um scarpin e um jóia é o bastante para esta produção!



Sirleide – E o vestido com lantejola. Você tem aí? Deixa eu ver esses daqui...



Jô – Aí é a sessão das blusas.



Sirleide – Menina do céu! Tenho uma caçola igual a essa!



Jô – Isso não é uma peça íntima, senhora...



Fernanda entra com duas taças de prosseco.



Fernanda – Desculpa, qual seu nome mesmo?



Sirleide – Sirleide! Cadê a sua taça, coisinha?



Fernanada – Tudo bem, vou fazer só um brinde com vocês também.



Criança – Oh mainha, tô com fome!



Sirlene – Mas agora? A gente acabou de sair de casa, já tá com fome?



Criança – Eu tô. Bora passar alí no Mcdonalds.



Sirlene – Essas criança de hoje parece que tem verme na barriga pra comer merenda. Nunca ví! Oxente, Neuza. Tu comeu um prato de comida quando saiu de casa e trouxe um pacote de bulacha creme craque!



Criança – Ooh, mainha... Vamo alí no Mcdonalds!



Sirleide – Olha, vc não me encha a paciência que hoje eu tô neuvosa! Não me deixe neuvosa não!



Criança – Ooh mainha...



Sirleide – Vá lá encher o saco do teu pai, que só parece querer chocar ovo! Se saia, viu, se saia! Nem comece.



Criança – Ooh painho...



Sirleide – Que nada! Essas criança de hoje em dia você não pode dar um pingo de osadia que fica tudo cheia de dengo! Mainha pra lá, painho pra cá. Oh coisinha, você que é nova, toma cuidado viu!



Jô – Sua filha é uma fofa!



Sirleide – Ela é ótima. Mas quando dá pra danar... Mas sim. Vamos ver a roupa da minha festa. Então queria uma coisa mais assim, sabe... Assim... Fashion! Da moda! Irado como vocês dizem.



Jô – Essa daqui foi sucesso da coleção. Olha a estampa, que charme!



Sirleide – Vixe minha filha. Vou parecer um gás com isso! Tem nada de lantejola aí não, que nem a da Colci?



Fernanda – Um brindezinho ao sucesso!



Sirleide – Ao sucesso, ao dinheeeeiro e ao brilhooo! O primeiro vai pro santo!



Fernanda e Jô se olham, com um sorriso meio constrangido. Sirleide bebe o primeiro gole e já fica alegre.



Fernanda – Está tudo bem? Jô, precisando de qualquer coisa, é só chamar, ok?



Jô – Ok, Nanda. Vou fazer a produção dela (pisca o olho). Então, ao invés do vestido, se usássemos este terninho? Fica bem chic!



Sirleide – Adoro essa palavra! Chic! Terninho!!! Deixa eu ver como é. (Gargalha) Minha filha, não vou fazer ixame de fezes não! Tá bêbada já é?



Jô – Não entendi, senhora. Este é um terninho em corte italiano, elegante para praticamente todas as ocasiões.



Sirleide – Minha filha, eu tô querendo ver um vestido de lantejola! Você não tem aí não?



Jô – Aqui nós chamamos de paetê.



Sirleide – Pá ê tê é tê pá pá tê tê. Minha filha, vc tá mangando de minha cara é?



Jõ – Como senhora?



Sirleide – Você tá mangando de minha cara é?



Jô – Deve estar havendo um engano...



Sirleide – Você tá achando o quê? Que espécie de estabelecimento é esse?



Jô – Acho que está havendo um mal entendido...



Sirleide – Mal entendido é o caralho! Ta achando que é o quê? Pois fique sabendo que meu avô foi o primeiro delegado de Jequié! Minha família toda conhece o prefeito da cidade. Ele vai tomar café lá em casa, e meus sobrinhos são assim com os filhos dele!



Jô – Minha senhora...



Sirleide – Pois a senhora está na casa do inferno! E se você quer saber, achei a cor dessa parede horrorosa! E que nunca mais piso nesse estabelecimento!



Fernanda – Gente, o que houve? Posso interferir em alguma coisa?



Sirleide – Eu vou é no PROCOM! Vim aqui comprar meu vestido, pra neguinho ficar tirando onda com minha cara, que nada!



Jô – Dona Sirleide, deixa eu explicar...



Cássio – O que houve meu bem!



Sirleide – Ói Cássio, você não se meta nisso não viu, não se meta não!



Cássio – Calma meu benzinho, calma!



Sirleide – Eu vou é me embora desse lugar!



Criança – Mainha, bora tomar um sorvete na Mcdonalds!



Black

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

mesmo que seja estranho...

" Quando viu Alice, o gato somente deu um largo sorriso. Parecia amigável, pensou a menina. Mas como tinha longas garras e uma porção de dentes, ela achou melhor tratá-lo muito respeitosamente
- Gatinho de Cheshire... - começou, meio timidamente, por não saber se esse nome iria agradá-lo. No entanto, ele sorriu mais. "Bom, ele parece estar gostando", pensou Alice. E prosseguiu:
- Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?
- Isso depende muito para onde você quer ir - respondeu o gato.
- Para mim, acho que tanto faz... - disse a menina
- Nesse caso, qualquer caminho serve - afirmou o gato.
- ...contanto que eu chegue a algum lugar - completou Alice, para se explicar melhor.
- Ah, mas com certeza você vai chegar, desde que caminhe bastante.
Como isso lhe pareceu incontestável, tentou lançar outra pergunta:
- Que tipo de gente mora por aqui?
- Naquela direção - disse o Gato, apontando com a pata para a direita - mora um chapeleiro. E aquela - apontou com a outra pata - mora uma Lebre de Março. Visite qual deles quiser: os dois são loucos.
- Mas não quero me meter com gente louca - ressaltou Alice.
- Mas isso é impossível - disse o Gato. - Porque todo mundo é meio louco por aqui. Eu sou. Você é.
- Como pode saber se sou louca ou não? - disse a menina.
- Mas só pode ser - explicou o Gato. - Ou não teria vindo parar aqui. "

Alice no País das Maravilhas